Uma estrela sem reconhecimento
- Rafael Fernandez
- 2 de jun. de 2020
- 3 min de leitura
O Brasil sempre será um dos países mais importantes para o MMA. O começo do esporte foi aqui com o vale-tudo, que evoluiu até se tornar o que é visto atualmente. Um celeiro de campeões desde Royce Gracie até José Aldo, não são poucos os títulos dos lutadores brasileiros. Infelizmente, no cenário atual o país só possui uma atleta campeã e o nome dela é Amanda Nunes, sem discussão a maior lutadora da história.

Amanda com os seus dois cinturões em sua última luta. Foto: Zuffa LLC/Getty Images
A lutadora, natural do estado da Bahia, é a atual campeã dos pesos galo e pena do UFC. Com cinco defesas do cinturão dos galos e com a primeira dos penas com data para acontecer, no sábado, dia 6 de junho, contra Felicia Spencer, nos Estados Unidos. Amanda ganhou o primeiro título em julho de 2016, no UFC 200, contra a pioneira do MMA feminino, Miesha Tate.
A baiana tem uma lista de oponentes invejável, com vitórias sobre Ronda Rousey, Holly Holm e Cris Cyborg. Ela derrotou todas as campeões da história de ambas as categorias galo e pena. Com um cartel desses e com somente quatro derrotas na carreira, a última há quase seis anos, é indiscutível que ela é a GOAT (sigla em inglês para "Greatest of All Time", que é "melhor de todos os tempos") do MMA feminino.
Por mais que tenha todos esses títulos e história no esporte, a "Leoa", como é apelidada, tem pouco reconhecimento da grande mídia no seu país natal. A campeã saiu da Bahia para os EUA no início da vida adulta para ir atrás do sonho de ser lutadora. A distância fez com que ela fosse esquecida por boa parte dos brasileiros. Diferente das lendas Anderson Silva, Minotauro, Vitor Belfort e José Aldo, Amanda não recebe muita atenção, mesmo com todas as conquistas.
É difícil entender o porquê dessa falta de cobertura para a baiana. Claro que Amanda se tornou campeã numa fase transitória do MMA no Brasil. Com a aposentadoria de muitos ídolos e a má fase daqueles que continuavam na ativa, houve uma seca de títulos nesse período. O esporte continua muito popular, mas é inegável que perdeu o hype que possuía entre 2011 e 2015. Tanto que a Rede Globo parou de transmitir as lutas em TV aberta e acabou com o reality The Ultimate Fighter: Brasil em 2015, depois de quatro temporadas.
Outra explicação é o preconceito existente no brasileiro. O MMA feminino já demorou anos para ser visto de um jeito profissional e no Brasil, por ser um país misógino e com uma sociedade patriarcal muito conservadora, as lutadoras não são tratadas da mesma forma que os homens. São inúmeras as brincadeiras em tom sexual feitas durante lutas femininas, só ir num evento para escutar. Além de serem constantemente chamadas de "mais fracas", qualquer lutadora pode falar sobre as fotos explícitas que recebe de homens nas redes sociais.
Mais que a questão de ser mulher, Amanda não é tão feminina quanto outras que fizeram sucesso. O maior exemplo disso é Ronda Rousey, a primeira campeã feminina do UFC. Ronda é uma atleta incrível, mas não pode se negar que ela fez o sucesso que teve por ser loira e considerada "atraente" na visão do público geral. Por isso, conseguiu ter uma pequena carreira em Hollywood, e é mais famosa do que a própria Amanda Nunes no Brasil.
O potencial de estrela da "Leoa" é enorme. Ela foi a primeira campeã brasileira do UFC, é a primeira lutadora a conquistar dois cinturões em categorias diferentes e a primeira atleta gay a ser campeã na organização. Ela é um exemplo para todos que sonham com uma carreira no esporte. Saiu de Pojuca, na Bahia, para Flórida, nos EUA, e conquistou tudo.

Amanda e sua esposa, Nina Ansaroff, depois de um evento do UFC. Foto: Zuffa LLC/Getty Images
A campeã encarou preconceitos não só por ser lutadora, mas por também ser homossexual. Amanda responde tudo com o seu jeito brincalhão e simples de ser, com a técnica e brilhantismo nas lutas. O ódio é outro oponente derrotado na carreira da baiana, um que ela venceu diversas vezes e continuará assim.
Amanda já se encontra no patamar dos grandes lutadores brasileiros da história, para mim até ultrapassa isso, já é uma das maiores esportistas. Ela é a melhor de todos os tempos. Ela é a "Leoa", que impressiona a cada luta. Tão grande quanto Belfort, Aldo e muitos outros. Tomara que mais brasileiros consigam ver e conhecer sua história um dia, para presenciar a grandeza dessa guerreira.
Excelente post! Estava sentindo falta desse destaque para as relações de gênero no MMA e os estigmas sofridos por suas lutadoras, sobretudo quando se declaram abertamente homossexuais! Fato que, indiscutivelmente, deve pesar sobre os homens desse esporte também! Talvez, alguns, não declarem sua orientação sexual temendo represálias... Afinal, as representações sociais de masculinidade, virilidade e força são comumente associadas a esse esporte. Parabéns, Rafa! Sem dúvida, você continua no caminho certo!