A rivalidade entre MMA e boxe continua a crescer a cada crossover entre os esportes. A partir do crescimento do UFC nos anos 2000 e a diminuição da popularidade da nobre arte, os debates sobre quais atletas levariam a melhor em eventuais combates começaram a surgir. Claro que é uma discussão com respostas claras, cada um levaria melhor em sua respectiva modalidade.
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Tyson Fury no chão após golpe de Francis Ngannou. Foto: Justin Setterfield/Getty Images
O mais comum até o momento sempre foi a transição dos lutadores de MMA para o boxe dada a maior facilidade para treinarem, já que possuem algum tipo de experiência na nobre arte, entretanto foram poucos que tiveram sucesso. Conor McGregor foi o primeiro a furar a bolha, quando enfrentou Floyd Mayweather em 2017. Como esperado, Mayweather venceu facilmente o irlandês, mas foi uma pequena vitória para o MMA o fato que McGregor durou até o décimo round.
Por mais que já existissem exemplos bem antes dessa luta, McGregor e Mayweather iniciaram a moda do crossover, que é bem popular atualmente. O próprio Muhammad Ali já participou de uma luta mista (ainda não era conhecido como MMA na época) contra Antonio Inoki em 1976. Porém, o combate de 2017 abriu a porta para lutadores de MMA desafiarem boxeadores, visando o lucro maior que existe na nobre arte.
Entretanto, o sucesso foi mínimo. Os lutadores de MMA que se aventuram no boxe geralmente são os veteranos na porta da aposentadoria. O fato de os melhores do mundo do MMA estarem ligados ao UFC, e a organização não ter o costume de coproduzir eventos, fez com que não fosse possível um confronto entre os melhores de cada esporte, assim como foi entre Mayweather e McGregor.
O pior foi que os representantes do MMA foram mais vistos na cena do influencer boxing (lutas de celebridades), com muitos servindo de oferenda para o youtuber Jake Paul elevar o seu cartel. Nomes como Ben Askren, Tyron Woodley, Anderson Silva e Nate Diaz, que estavam longe do auge da carreira, acabaram sendo presas fáceis para o mais jovem e atlético oponente.
O brasileiro Vitor Belfort ainda não perdeu em nenhuma de suas lutas de boxe, mas as vitórias são pouco relevantes. Primeiro pelo histórico de doping de Belfort, o que sempre coloca um asterisco em suas lutas devido ao seu físico impecável para alguém de 45 anos. Segundo pela competição, onde enfrentou um velho Evander Holyfield, que nem deveria ter sido autorizado a entrar no ringue, e um confronto contra outro lutador de MMA, Ronaldo Jacaré.
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Vitor Belfort nocauteou a lenda do boxe Evander Holyfield. Foto: Amanda Westcott/Triller
Por isso, o MMA estava um pouco atrás do boxe no confronto, até porque nenhum atleta de boxe quis se arriscar na outra modalidade. Com isso, os fãs das artes marciais mistas tiveram que se contentar em assistir os lutadores passarem vergonha sempre que boxeavam. Além disso, os constantes desafios entre os grandes nomes de ambos os mundos estava ficando tediosos, já que os confrontos nunca ocorriam.
Eis que surge Francis Ngannou. O camaronês decidiu apostar em si mesmo em 2022, ao sair do UFC, por sentir que os lutadores não eram valorizados na organização. Ngannou era o campeão dos pesados e tinha talvez a maior luta da história do esporte contra Jon Jones como próximo passo, quando decidiu que merecia mais do que recebia. Além disso, ele via no boxe a oportunidade de receber a compensação financeira que achava ser justa. Entretanto, todos zombaram das suas escolhas e o fizeram de maluco ao achar que teria alguma chance na nobre arte.
Depois de um ano inteiro sem resposta, Ngannou finalmente definiu o seu futuro. Ele assinou com a PFL, num acordo que lhe dava liberdade de se aventurar no boxe. Não demorou muito até ser oficial: Francis Ngannou, possivelmente o melhor peso pesado do MMA atual, contra Tyson Fury, o melhor do boxe.
Assim que o combate foi anunciado, ninguém viu a mínima chance de Ngannou causar qualquer problema para Fury. Pelo menos parabenizaram o camaronês por conseguir o maior salário da sua carreira, mas diminuíram o feito por achar que ele estava sendo basicamente pago para ser massacrado. O pior é que as pessoas não estavam erradas em darem pouca chance a Francis. Antes da luta, a única chance dele era o poder das mãos, mas até isso era algo mínimo já que Fury sobreviveu aos socos de Deontay Wilder.
Para resumir, o esperado era Tyson Fury massacrar Francis Ngannou rapidamente. O próprio Fury e seu camp esperavam isso, já que marcaram uma luta no final de novembro contra Oleksandr Usyk antes mesmo do confronto contra Ngannou. Depois de meses de piadas, o lutador de MMA entrou no ringue e chocou a todos por não só sobreviver todos os dez rounds, mas também derrubar o britânico e ganhar no card de um dos juízes laterais. Ele até pode ter perdido por decisão dividida, porém para muitos ele foi o real vencedor.
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Francis Ngannou acerta cruzado de esquerda que derruba Tyson Fury. Foto: Justin Setterfield/Getty Images
Instantaneamente, Ngannou vira uma estrela não só no MMA como também no boxe. Agora diversas opções surgiram para ele em ambos os esportes. Confrontos contra Anthony Joshua ou Deontay Wilder. O sonhado enfrentamento contra Jon Jones. No último sábado, dia 28 de outubro de 2023, Francis Ngannou provou novamente que estava certo em apostar em si mesmo. E por mais que tenha perdido, ele ajudou o MMA a ter mais um pontinho na rivalidade com o boxe.
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