UFC em tempos de pandemia
- Rafael Fernandez
- 8 de mai. de 2020
- 3 min de leitura
O UFC é a primeira organização de esportes a voltar a realizar um evento desde a paralisação pelo Covid-19. O evento deste sábado, dia 9, acontecerá numa arena vazia na cidade de Jacksonville, no estado da Flórida nos Estados Unidos. Os EUA é o país com o maior número de casos e mortes pelo coronavírus com 1,32 milhões e 78,1 mil, respectivamente.

Encarada entre Uriah Hall e Ronaldo Jacaré na pesagem do UFC 249. Foto: Mike Roach/Zuffa LLC/Getty Images
O UFC 249 contará com 12 lutas no total, com duas disputas de cinturão, e vai ser o primeiro de três eventos, todos realizados na mesma arena, num período de uma semana que a organização terá. A pergunta é: por que voltar agora? Nenhum dos esportes sequer possui planejamento para voltar. NBA, NHL e todas as outras grandes organizações norte-americanas estão paradas. O mais estranho nisso é que o presidente do UFC, Dana White, até se orgulha de ser o primeiro a voltar.
O papel de White nisso tudo é importantíssimo. Ele tem sido bem claro desde o início da pandemia que o UFC não iria parar, lutou para o evento deste sábado ter acontecido semanas atrás. O chefão só adiou o evento depois que Khabib Nurmagomedov, atual campeão dos leves, disse que não conseguiria ir para os EUA para poder lutar, graças a uma proibição russa no qual os cidadãos não podem sair do país.
Mesmo com o adiamento de todos os eventos de abril, White continuou a afirmar que voltaria rapidamente com as lutas. Rodou os EUA atrás de arenas que estavam dispostas a realizar eventos até achar a de Jacksonville. Além disso, uma chamada "Ilha da Luta" está em desenvolvimento, uma ilha particular que seria sede para outros UFC se a pandemia se estender.
O posicionamento de Dana é claro. Ele não acredita em parar tudo, por ele todos estariam fora de casa e ativos no trabalho. Esse pensamento é diretamente ligado ao que fala o presidente dos EUA, Donald Trump. White é um dos apoiadores mais conhecidos do presidente americano, com constantes idas e discursos em eventos pró-Trump. Esse apoio ao político, empresário e ex-personalidade de televisão vem pelo fato, de no início dos anos 2000, Donald Trump ter aberto às portas dos seus cassinos para realização de edições do UFC, que naquela época estava indo a falência.

Trump e White num discurso do então candidato à presidência. Foto: Michael Ciaglo/Getty Images
White e Trump conseguiram o que queriam. O desvio do foco da catástrofe para o evento esportivo. O UFC 249 é simplesmente uma arma para a população se esquecer dos erros do presidente. Uma forma absurda de exemplificar que é preciso voltar à ativa e ao trabalho, enquanto inúmeras pessoas morrem nos hospitais americanos.
Os maiores prejudicados nisso tudo são os lutadores que precisam aceitar as lutas para ganhar algum dinheiro. Todos já sabem que a questão do salário dado aos profissionais é um grande debate. A maioria dos pagamentos é baixo comparado ao que eles passam para lutar e aos perigos que se colocam. São poucos os que ganham milhões.
E o que acontece com os que corretamente não aceitam lutar durante a época da pandemia? Só ver o exemplo do campeão peso pesado do UFC, Stipe Miocic, que negou lutar e disse que "há maiores problemas no mundo agora". O lutador e também bombeiro, já foi ameaçado de ser destituído do título de campeão pelo chefão Dana White.
A verdade é que, por mais que sejam incríveis as lutas deste fim de semana, a verdadeira luta que deve ser focada e dada a devida importância é a pela saúde e pela diminuição da contaminação do vírus. Haverá muitas outras oportunidades para eventos do UFC, mas não haverá tantas outras para os afetados pela doença.
Gostei muito do texto Rafa! Análise simples e real da situação difícil que vivemos. Você é mais uma voz para combater a "cegueira" atual que impera em tantos setores. Bravo!!!
Excelente texto, Rafa! Objetivo e necessário em tempos de tanta ignorância! Parabéns, querido!!