Rivalidade entre gigantes
- Rafael Fernandez
- 13 de jun. de 2020
- 4 min de leitura
O MMA é o esporte que cresce mais rapidamente no mundo. Isso já acontece há alguns anos, mas ainda não é tão popular como poderia ser. Como qualquer outro esporte, se tem os fãs leais e os fãs casuais. Nas artes marciais, os casuais costumam aparecer sempre que há uma luta que envolva um lutador famoso ou com altos níveis de drama. Por isso, algo que atrai bastante são as rivalidades.

Miocic (calção preto) e Cormier (calção cinza) na primeira luta entre os dois no UFC 226.
Foto: UFC/Reprodução
As rivalidades sempre foram uma grande parte de todos os esportes, então no MMA não seria diferente. Combates como Gracie x Shamrock, Lidell x Ortiz e Wanderlei x Rampage elevaram o status da modalidade e atraíram novos fãs no final dos anos 90 e ínicio do século XXI. Com o passar do tempo, mais confrontos entre rivais apareceram e cada vez houve um crescimento maior de espectadores.
A questão é: por que as pessoas são tão atraídas a essas lutas? A explicação é simples. Na maioria das vezes, os dois lutadores envolvidos em uma rivalidade simplesmente não gostam um do outro e, em alguns casos, chega até existir ódio entre si. O público adora um drama, o famoso trash talk. Todo mundo ama, é o que vende a peleja. Os maiores combates da história sempre tinham uma animosidade entre os atletas.
Muitos pensam que para se constituir uma rivalidade precisa haver uma animosidade entre os lutadores. Isso foi o caso de confrontos como McGregor x Nurmagomedov, Silva x Sonnen e Jones x Cormier. Em todos esses exemplos, os lutadores não se gostavam e até hoje, com exceção de Silva e Sonnen, trocam farpas.
O que muitos não sabem é que essas disputas podem ser respeitosas e simplesmente uma questão de provar quem é o melhor. O problema é que, nesse caso, não se tem a devida atenção, mesmo com a grandeza num nível similar do que outros combates. Com isso, chegamos ao tópico principal do texto: a rivalidade entre Stipe Miocic e Daniel Cormier.
Miocic e Cormier já lutaram duas vezes, com uma vitória para cada um. A história entre os dois começou em 2018 e, coincidentemente, no mesmo evento, o UFC 220. Nesse card, ambos os lutadores defenderam seus respectivos cinturões, o pesado de Stipe e o meio-pesado de Daniel. Os dois chegaram ao patamar de não ter um desafiante claro para os títulos em suas categorias. Com isso, o UFC teve a ideia de marcar uma luta entre os campeões.
O confronto fazia total sentido. "DC", como é apelidado Cormier, competiu as primeiras treze lutas de sua carreira no peso pesado e só desceu de categoria porque seu amigo e companheiro de treinos, Cain Velasquez, era o campeão dos pesados. Com Cain fora do caminho e Cormier passado por cima de todos do meio-pesado que não fossem Jon Jones, um combate com o detentor do título da divisão de cima era uma opção clara.
Miocic também não possuía nenhum desafiante óbvio para seu título. Ele é o recordista de defesas de cinturão nos pesados e derrotou todos os tops da categoria naquele momento da carreira. Por isso, o UFC marcou a luta entre os dois para o UFC 226, em julho de 2018. Para o choque de muitos, Cormier nocauteou Stipe no primeiro round.
Devido ao histórico de Miocic, assim que ele esteve pronto para voltar a organização lhe deu uma revanche no UFC 241, em agosto de 2019. Os primeiros minutos da segunda luta deram a sensação que o resultado seria o mesmo. Cormier, que defendeu o título contra Derrick Lewis entre as lutas com Stipe, dominou os assaltos iniciais, mas o ex-campeão se adaptou, corrigiu e encontrou brechas para virar o jogo e nocautear "DC" no quarto round.
Agora com uma vitória para cada um, é o momento do tira-teima. O UFC marcou a terceira luta para o UFC 252, em agosto. A pergunta é: por que uma rivalidade entre dois dos maiores atletas da história do UFC não atrai tantos espectadores?
Como falado anteriormente, o público sempre procura o trash talk e a animosidade entre os atletas, isso é o que mais anima os fãs. Miocic e Cormier não têm problemas pessoais e se respeitam, são simplesmente competidores e cada um com o objetivo de ser campeão. "DC" até tentou instigar respostas de Stipe com alfinetadas, mas, no final das contas, a rivalidade é por pura competição.
Outro fato é Francis Ngannou, o camaronês espera o vencedor da luta entre Miocic e Cormier e é considerado por muitos como o futuro campeão. Alguns até dizem que Stipe e "DC" só lutarão pra decidir a próxima vítima do "The Predator", apelido de Ngannou, que possui uma sequência de quatro vitórias por nocaute no primeiro round.

Miocic (calção cinza) soca Cormier (calção preto) na segunda luta entre os dois no UFC 241.
Foto: UFC/Reprodução
Mesmo com todos esses motivos, é difícil entender a falta de atenção dada para a trilogia e até o desrespeito apresentado em relação a questão de Francis Ngannou. Muitos parecem esquecer o patamar que ambos, Miocic e Cormier, estão na história do MMA e que o próprio Stipe já derrotou Ngannou.
Uma luta deveria atrair público em relação ao patamar dos atletas envolvidos e ao nível em que os mesmos se encontram. Afinal, o MMA e as artes marciais em geral sempre ensinaram o respeito com o oponente. Tomara que a trilogia entre Miocic e Cormier termine com a mesma emoção e imprevisibilidade que teve até o momento. Algumas vezes, o público geral demora a reconhecer a grandeza dos atletas. O mundo da luta tem sorte por ter uma rivalidade como essa.
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