No último sábado, o UFC realizou o primeiro pay-per-view do ano de 2024. O UFC 297 aconteceu em Toronto, no Canadá, e decepcionou os fãs com combates monótonos e de nível técnico baixo, principalmente nas duas disputas de cinturão. As lutas, fracas, foram uma surpresa, especialmente a principal entre Sean Strickland e Dricus Du Plessis, dado ao trash talk e às falas controversas de ambos na pré-luta.
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A encarada entre Sean Strickland e Dricus Du Plessis.
Foto: Chris Unger / Zuffa LLC via Getty Images
É fácil afirmar que todas as polêmicas antes da luta foram mais interessantes que o baixíssimo nível visto dentro do octógono, mas, depois de tudo, é necessário se perguntar se existe um limite para o trash talk no MMA. A rivalidade entre Strickland e Du Plessis aumentou após o sul-africano utilizar o abuso sofrido pelo adversário na infância como provocação. Isso levou a uma briga pública entre os dois na área vip do UFC 296, em dezembro, e a uma ameaça de esfaqueamento por parte do americano.
Isso sem contar os diversos comentários preconceituosos que o próprio Strickland vem dizendo há alguns anos. Xenofobia, homofobia e machismo estão todos nas listas de agressões verbais que o americano já fez. Aliás, em relação ao próprio Du Plessis, ele teve uma fala homofóbica, devido ao costume do sul-africano e seus treinadores trocarem selinhos como forma de carinho.
Além disso, o ataque de Sean Strickland na última quarta-feira, só porque um jornalista fez uma pergunta sobre o que o lutador pensa sobre os seus comentários, foi uma das situações mais surreais que já vi no MMA. Strickland xingou o repórter que só estava fazendo o trabalho dele. O mais triste foi assistir muitos estarem do lado do americano e compartilharem a mesma visão.
O pior disso tudo é que o UFC me parece estar completamente tranquilo em relação aos comentários feitos por Strickland. O presidente da organização, Dana White, chegou a dizer que o agora ex-campeão caiu em uma "armadilha" e que quem se incomoda com as suas palavras, deveria parar de acompanhar MMA. Tudo isso com a desculpa da "liberdade de expressão" debaixo do braço.
Eu vou aproveitar para deixar claro que não tenho nada contra Sean Strickland como atleta. Por mais que não esperasse vê-lo conquistar o cinturão dos médios, eu só tive elogios para a performance dele contra Israel Adesanya no UFC 293, em setembro do ano passado. Entretanto, não posso ficar calado e fingir que não me incomoda que um dos motivos dessa popularidade sejam suas falas controversas fora do octógono.
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Israel Adesanya e Sean Strickland se cumprimentando após a luta entre os dois. Foto: UFC.
Eu até acho que é uma pena o Strickland ser resumido às polêmicas, porque ele é um grande lutador, que conseguiu atingir o topo do esporte. Porém, é impossível negar que ele só ganhou esse foco todo devido a visão violenta e machista que quer para o mundo e que muitos fãs compartilham com ele.
Também gostaria de lembrar que discordar das falas dele não quer dizer que concordo com as palavras horríveis sobre o abuso infantil sofrido por Strickland. Eu me solidarizo e acho inaceitável que uma promoção para um combate chegue a este nível. Eu acredito que existem limites para provocações e algo sério como isso não deveria ser utilizado para vender uma luta ou ter uma vantagem mental sobre o adversário.
Por isso, comecei a questionar qual seria o limite para o trash talk e comentários por parte dos lutadores. O UFC claramente possui a opinião de que todos podem falar devido à liberdade de expressão. Para a organização, não existe nada que não possa ser falado e eles concordam que os atletas não deveriam sofrer represálias ou críticas devido a falas controversas.
Eu compartilho do pensamento de que existe sim um limite. Não vejo como trash talk envolver familiares ou qualquer trauma sofrido pelo adversário na provocação. Também entendo que atletas que tenham falas preconceituosas precisam ser questionados sobre essa visão.
Para acentuar, esse texto não tem nenhuma visão, crítica ou cunho político. Se sentir incomodado com comentários preconceituosos não é ser de esquerda ou de direita. Eu só gostaria de viver num mundo onde o MMA possa se desvincular desse estereótipo da violência e do esporte de "machões".
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Sean Strickland provoca Israel Adesanya nos segundos finais da luta entre os dois.
Foto: Getty Images.
O MMA lutou muito para ser visto como um esporte de verdade. Ter lutadores ameaçando esfaquear o adversário ou se utilizando de abuso infantil como provocação, faz com que a modalidade continue a ser vista como briga de rua ou que seus atletas são pessoas sem educação ou inteligência. Por isso, é necessário ter um limite para podermos continuar sendo levados a sério.
trashtalk tem que ter um limite. Sou presidente do SFT,’ e nos tocamos muito nesse assunto. Nossas encaradas nunca chegam a ser as loucuras que se vê em outros eventos. E o SFT tem top atletas. Ninguém no Brasil teve a qualidade de atletas lutando, com a experiência que eles tem como o ST. Isso é fato, estou me baseando no ranking do Tapology.
Nos temos um grupo de WhatsApp, com atletas,, e nunca tivemos um problema.
Os atletas se tornam os heróis para muitas pessoas e eles tem uma responsabilidade de se comportar de uma maneira correta.
A cultura americana é differente do Brasil. Entao já vai ser algo mais pesado. Mas pelo UFC nunca se meter, isso s…