Toda era tem o seu fim. São pouquíssimos os casos dos grandes campeões que finalizaram os seus ciclos em divisões sem serem destronados. Os únicos que vem em mente são Khabib Nurmagomedov, Georges St-Pierre, Jon Jones e Amanda Nunes. O MMA é um esporte que não perdoa, de erro zero, não importa o quão incrível é o lutador, a hora de todos chega em algum momento.
Ilia Topuria sem acreditar que era o novo campeão dos penas após nocautear Alexander Volkanovski. Foto: Cooper Neill / Zuffa LLC via Getty Images
A categoria dos penas deve ter o plantel de campeões mais incrível da história do esporte. Todos os quatros que seguraram a cinta linear possuem vaga garantida no Hall da Fama da modalidade. O nível é tão alto entre eles, que fica difícil definir qual o maior. São tantas circunstâncias para cada reinado e cada um tem uma característica sólida para ser escolhido como o GOAT ("Greatest of All Time", Maior de todos os tempos, em português) da divisão.
No final do debate, a maioria das pessoas ficavam entre José Aldo, o primeiro campeão, e Alexander Volkanovski, o até então atual detentor. Para o humilde redator deste texto, Aldo é o GOAT, mas Volkanovski estava perto de ultrapassá-lo. Principalmente, se passasse sobre o perigoso desafio de Ilia Topuria.
O australiano Volkanovski começou o seu reinado em 2019 quando derrotou Max Holloway por decisão unânime. A partir daí, Volka defendeu a cinta cinco vezes com domínio total sobre os desafiantes. Nessas defesas, duas tinham sido contra o ex-campeão e, até aquele momento, considerado talvez o melhor da história da categoria, Holloway.
Graças a dominância demonstrada, Volkanovski já era visto como o maior da história, mesmo tendo menos defesas em comparação com José Aldo. Porém, os desafiantes do australiano foram vistos como mais duros do que os do brasileiro, por isso muitos davam vantagem para Volka. Entretanto, uma boa parte do público ainda estava em cima do muro e via uma vitória contra Ilia Topuria como a confirmação do status de GOAT para Alexander Volkanovski.
Topuria era o desafiante mais duro da divisão atualmente. Invicto, mãos pesadas e um jiu-jitsu de alto nível, ele tem o jogo completo. Entretanto, todos pensavam que Volkanovski iria achar uma estratégia para lidar com o perigoso adversário, pois era o que ele sempre fazia. A dominância de Volka tem explicação na forma incrível em que ele e seus treinadores criam estratégias para lidar com cada oponente. Além da performance perfeita do lutador na hora do combate.
Alexander Volkanovski comemorando uma vitória. Foto: Alex Bierens de Haan/Getty Images
Entretanto, a genialidade de Volkanovski pode ter cegado todos sobre a real possibilidade da derrota contra Topuria. É fácil falar agora depois do combate e sabendo do resultado, mas os asteriscos já estavam ali desde o início. Primeiro vamos lembrar de uma das principais características de Ilia: o poder de nocaute.
O espanhol tem mãos pesadíssimas somadas a um boxe incrível. Isso por si só já deixaria o combate com um nível mais desafiador que os antigos desafiantes de Volkanovski, pois nenhum tinha essa combinação perfeita de técnica e força. Além disso, Volka tinha acabado de ser nocauteado há quatro meses, quando enfrentou o campeão dos leves, Islam Makhachev. Na história do MMA, um retorno tão rápido depois de uma concussão tão séria geralmente levava a mais problemas na luta seguinte.
Na minha mente, eu tinha uma visão que era perigoso para Volkanovski enfrentar Topuria logo depois de uma derrota tão devastadora. Entretanto, como falei antes, a genialidade do australiano me fez dar um voto de confiança de que ele acharia um jeito de sair com a mão levantada. O histórico pesava a seu favor.
Quando chegou a hora do combate no último sábado, dia 17 de fevereiro, Volkanovski parecia ter se recuperado bem da derrota para Makhachev. Estava com uma boa movimentação e seguindo bem a estratégia de manter a longa distância com chutes no corpo e pernas. Topuria também demonstrava uma ótima forma com belas combinações. O primeiro round foi tão apertado que é difícil definir quem venceu.
Entretanto, quando tudo parecia estar caminhando para cinco rounds de altíssimo nível, Ilia Topuria acertou um cruzado lindo, que apagou o campeão na hora. É algo incrível como um reinado histórico pode terminar tão subitamente. É até estranho ver Volkanovski nocauteado, depois de anos de ser conhecido por ter um queixo bom. Pode ser que o retorno rápido demais tenha causado um efeito, mas ele estava bem até aquele momento. Neste caso, o mérito é todo das habilidades de Topuria, o novo campeão dos penas do UFC.
Ilia Topuria recebendo o cinturão do UFC. Foto: UFC
O reinado de Ilia Topuria já começa histórico graças ao lindo nocaute no último sábado e ao fato de ser o primeiro espanhol campeão do UFC. Agora cabe o novo campeão seguir a histórica safra de campeões marcantes na categoria dos penas. O invicto Topuria abriu diversas possibilidades para uma divisão que estava enrolada depois de anos de domínio de Alexander Volkanovski. No final das contas, a derrota de campeões dominantes é importante, pois dá chance de novas histórias serem contadas. Aliás, quando uma era chega ao fim, é o momento de uma nova começar.
Comments