Como em qualquer esporte, os árbitros muitas vezes estão no centro de inúmeras polêmicas. Porém, no mundo das artes marciais é uma questão mais delicada, pois erros como interromper uma luta muito cedo ou muito tarde podem significar danos sérios de saúde ou menos dinheiro para sustentar a família do atleta. A pergunta que fica é: por ser uma tarefa tão complicada, os juízes centrais não podem ser questionados por fãs, mídias e lutadores?
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O comentarista do UFC Dan Hardy (de terno) discutindo com o árbitro Herb Dean.
Foto: Jeff Bottari/Getty Images
No último sábado, dia 25 de julho, o UFC realizou o evento final na "Ilha da Luta". O card teve como main event o duelo no peso médio entre o ex-campeão Robert Whittaker e Darren Till, além de confrontos como Werdum x Gustafsson e Shogun x Minotouro. Porém, o maior tópico da noite veio de uma luta no card preliminar que envolveu o brasileiro Francisco Massaranduba e o inglês Jai Herbert.
Os dois se enfrentaram numa luta muito movimentada e que a todo momento alternava quem estava melhor. Herbert, estreante no UFC, é um atleta bem alto e longo para a divisão dos leves e depois de um primeiro round complicado, tomou o controle no segundo. O seu oponente, Massaranduba, é um veterano da organização e o único remanescente da primeira temporada do The Ultimate Fighter Brasil, programa que passou na Globo entre 2012 e 2015.
Mesmo com a experiência no seu lado, Massaranduba sofria com o condicionamento físico. Ele não bateu o limite de peso da categoria, o que afetou o seu cardio e o deixou visivelmente mais cansado. Com a luta provavelmente empatada, um round para cada um, o último assalto era importantíssimo e pelo desenrolar do combate, o inglês parecia o melhor lutador.
Após um minuto e 30 segundos do último round, veio o momento derradeiro. Massaranduba conectou um golpe no topo da cabeça do inglês, que caiu visivelmente nocauteado. Com o adversário no chão e sem reação, o brasileiro hesitou em golpear mais vezes, porém, o árbitro Herb Dean não interrompeu a luta e só parou após quatro socos desnecessários.
O erro de Dean foi bem claro, não tinha motivo para deixar a luta continuar. Herbert caiu nocauteado, em nenhum momento ele olhou para Massaranduba ou tentou se defender quando estava no chão. Os braços esticados para cima foram a resposta do músculo ao nocaute, algo involuntário. Herb só precisava olhar nos olhos do inglês para ver que o confronto estava acabado.
Por mais absurdo que tenha sido o erro, ele não seria tão comentado se não fosse o que aconteceu logo após. O comentarista e ex-lutador Dan Hardy ao ver Herbert completamente nocauteado e a demora do árbitro em pará-la, gritou para a luta ser interrompida. Além disso, com sinais de raiva, falou que era a segunda interrupção tardia de Dean na noite, numa referência a uma peleja entre Tanner Boser e Raphael Pessoa que ocorreu mais cedo.
A reação de Hardy enfureceu Herb Dean, que ainda no cage pediu ao britânico para se acalmar. Ao sair do octógono, os dois discutiram e foi possível escutar o comentarista dizer: "Faça o seu trabalho!". Após o evento, "The Outlaw", como era apelidado Dan Hardy quando lutava, deu a sua versão do acontecido e justificou seu descontentamento com a interrupção ao falar que "ao comentar e assistir lutas, ele não vê somente lutadores, mas também filhos, pais, irmãos, mães, amigos".
Não demorou para Herb Dean responder. Por mais que não tenha citado o nome de Hardy, Dean deixa claro que é perigoso alguém gritar como o comentarista fez por ter a possibilidade de atrapalhar e pelo britânico não saber o que é ser um árbitro. Além disso, ele disse que Dan Hardy não pode achar que é o Super-homem.
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Jai Herbert nocauteado no chão antes de Massaranduba desferir mais golpes.
Foto: Jeff Bottari/Getty Images
Talvez Dan Hardy tenha se excedido na reação e na reclamação com Herb Dean. Muitos falaram que Hardy conhecia Herbert, por isso a revolta, mas o maior problema foi o erro grave de Dean ao colocar a saúde do lutador em risco e o ar de intocável que deixou na resposta depois do evento.
É óbvio que Hardy tem direito de opinar e reclamar sobre a atuação dos árbitros, não é necessário ser um para isso. "The Outlaw" é um ex-lutador e estudioso do esporte que sabe muito bem quando um atleta está vivo na luta ou não. Por mais duro que seja o trabalho, é necessário um melhor treinamento e que os profissionais sejam mais pressionados após erros.
A dificuldade em comandar uma luta é imensa. É preciso ficar atento aos mínimos detalhes, qualquer coisa pode virar uma grande polêmica e interferir na vida de um atleta. O estresse a que os árbitros estão o tempo todo submetidos e talvez isso possa causar ações não pensadas, impulsos. É difícil um evento não ter uma polêmica de arbitragem.
O pior disso é a péssima memória de todos envolvidos no esporte, pois os erros e polêmicas são os tópicos por alguns dias e, logo depois, são esquecidos e substituídos por novos acontecimentos. Fazem menos de três meses da polêmica luta entre Glover Teixeira e Anthony Smith (https://www.trocadefaixa.com/post/a-mania-de-nunca-jogar-a-toalha) e há 20 dias atrás, aconteceu a interrupção tardia do combate do Petr Yan e José Aldo, ambas situações foram discutidas por dois ou três dias e já esquecidas.
Por um tempo no esporte, parece que não importa a quantidade de erros, nada vai mudar em relação aos árbitros. A melhoria da profissão só ajudará a modalidade, pois os atletas ficarão mais seguros e menos polêmicas acontecerão. Sendo assim, é necessário que os juízes centrais não sejam intocáveis e os fãs respeitem o duro trabalho deles. Tomara que com isso, menos situações como a de sábado ocorram.
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