No dia 17 de julho de 2017, um jovem franzino de 22 anos entrou no octógono do Contender Series, um programa semanal do UFC onde os lutadores disputam por uma chance na organização. Quatro minutos depois, O'Malley estava em cima da grade nos recepcionando ao que tínhamos acabado de assistir: "Bem-vindos ao show do Suga!"
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Sean O'Malley recebendo o cinturão do presidente do UFC, Dana White. Foto: Cooper Neil / Zuffa LLC.
Sean O'Malley proclamou esta frase para o mundo enquanto o seu oponente estava nocauteado no cage. O presidente do UFC, Dana White, pulava da cadeira de tanta empolgação e o rapper Snoop Dogg gritava diversas vezes o nome do garoto na transmissão. A situação inteira já mostrava a possível estrela que a organização tinha nas mãos. A partir desse momento, um foguete foi colocado nas costas de O'Malley mirando o topo do mundo.
Seis anos depois, o foguete chegou ao destino. Ocorreram algumas mudanças de rota, alguns obstáculos, mas no final, alcançou o objetivo que sempre esteve na mente: o título mundial. Com um calculado e lindo contragolpe de direita, Sean O'Malley se colocou na história da esporte para sempre. Muitos duvidaram e até mesmo questionaram se O'Malley merecia estar na posição de disputar o cinturão, porém todos se renderam após sua performance.
Em uma época que o UFC se esforça para achar um novo astro, O'Malley subiu ao palco para mostrar que será esse cara. Já tendo mais de 30 milhões de visualizações em dois dias, o mundo inteiro viu o nocaute de Sean O'Malley sobre Aljamain Sterling no UFC 292. Ele, que desde 2017 foi preparado para este momento, se tornou a nova galinha dos ovos de ouro.
Desde sábado, as comparações com Conor McGregor não param. Talvez um desespero para ter em O'Malley o mesmo potencial de estrela? Provável. Porém o que se assemelhou não foi o trash talk ou a postura arrogante que ambos carregam, mas sim o golpe que os alavancou para o topo da categoria. Ambos com um contragolpe perfeito, mesmo movimento, para nocautear o campeão dominante da categoria e assumir o trono. Como disse McGregor no dia em que nocauteou José Aldo: precisão vence força, timing vence velocidade.
Será que a performance de sábado colocará O'Malley no mesmo patamar que McGregor estava após derrotar Aldo? Provavelmente não. Porém, pode mantê-lo na trajetória até esse nível. O americano já era bem popular antes e o UFC 292 foi basicamente feito em volta dele. Ele era o ator principal, todos os outros lutadores do card eram meros coadjuvantes.
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Sean O'Malley acerta um golpe em Aljamain Sterling no UFC 292. Foto: Cooper Neil / Zuffa LLC
A mistura perfeita entre carisma e qualidade técnica dentro do octógono. A arrogância para trazer hype para o combate e a precisão dos golpes para conseguir um nocaute empolgante. Essas combinações são raras. Poucos atletas têm esse poder de carregar um evento nas costas e transformar a semana inteira em algo que não se pode perder. Nunca terá um momento chato. Assim como falou em 2017, o que O'Malley faz é um show.
Aliás, a frase tem que mudar agora. De "bem-vindos ao show do Suga" para "bem-vindos à era do Suga". A divisão dos galos já tinha muitos motivos para ser a mais competitiva do esporte no momento e agora, com O'Malley no topo, diversos combates interessantíssimos estão na mesa. Todos com peculiaridades e combinação de estilos diferentes.
Sean O'Malley mostra que além de ser um ótimo lutador, não é bobo na hora de negociar a próxima luta. Para a era do Suga ser longa, ele precisa escolher os combates que darão a ele a maior possibilidade de estar no topo. Por isso que durante a semana inteira, ele martelou a tecla que a primeira defesa do título será contra o equatoriano Marlon Vera. Por que é inteligente por parte de O'Malley pedir esse confronto? Porque ele preenche todas as casinhas.
Em questão de entretenimento e venda da luta, não tem melhor na categoria. Ambos os lutadores sabem utilizar do famoso trash talk e ainda tem o enredo que Vera foi o único a derrotar O'Malley na carreira do atual campeão. Em questão do casamento de estilos, ambos preferem a trocação, o que geralmente é a preferência dos fãs. Por último, Sean O'Malley consegue evitar os confrontos mais difíceis contra Merab Dvalishvili ou Cory Sandhagen, por um muito mais favorável contra Marlon Vera.
Com isso, a próxima luta já está destinada ao sucesso. Só está nas mãos de O'Malley continuar a provar que é o melhor dentro do cage. Enquanto se mantiver no topo, ele não irá parar de crescer e, quem sabe, não siga os passos de Conor McGregor e mud para o boxe. Na coletiva de imprensa pós-UFC 292, ele demonstrou interesse em uma luta contra o boxeador Gervonta Davis.
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Sean O'Malley sendo declarado vencedor no Contender Series, em 2017. Foto: Brandon Magnus / Getty Images.
Seja no octógono ou no ringue, Sean O'Malley já conseguiu o mais importante: a atenção do público. Na verdade, ele conquistou isso em 2017 e desde então o público teve o prazer de ver o crescimento e o desenvolvimento dele como um atleta de alto nível. Ele pode manter a mesma imagem do jovem franzino, mas a cada show o artista marcial se sobressai.
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