É correto falar que o MMA se encontra numa nova era. Representantes da velha guarda têm cada vez menos espaço no cenário atual. A grande diferença de idade começa a fazer efeito até nas divisões mais pesadas, onde não era tão desequilibrante. Por causa dessa nova fase de lutadores mais atletas, são poucos os veteranos que ainda competem em alto nível nas maiores organizações do planeta.
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Glover Teixeira castiga Thiago Marreta com ground & pound. Foto: Jeff Botari/Zuffa LLC
Por tudo isso, fica mais incrível a ascensão recente do brasileiro Glover Texeira nos rankings dos meios-pesados. Aos 41 anos de idade, Glover emplacou uma sequência de cinco vitórias e é, provavelmente, o próximo desafiante do campeão, Jan Blachowicz. Como Glover conseguiu dar uma sobrevida em sua carreira numa divisão recheada de jovens talentos?
Glover se encontra em um estranho local na história da divisão. Ele tem idade para fazer parte da velha guarda como Shogun, Lyoto Machida, Rampage, Rashad Evans e tantos outros. Porém, por problemas com o visto, ele perdeu boa parte da carreira podendo lutar só no Brasil. O visto atrasou sua ida ao UFC que só se concretizou em 2012, quando a categoria dos meios-pesados já era dominada por Jon Jones.
Na época em que entrou no UFC, Glover se aproveitou do vácuo deixado pela decadência de antigos tops da divisão. Com isso, foi só emplacar uma boa sequência de vitórias que já desafiava Jon Jones pelo cinturão. Infelizmente, o título não veio e nos quatro anos seguintes, vimos o brasileiro ter dificuldades ao perder quatro de nove lutas.
Infelizmente, Glover teve uma dificuldade imensa quando enfrentava lutadores mais jovens e mais atléticos que ele. Até mesmo em algumas vitórias, ele sofreu graças a essa diferença, por exemplo contra Ovince Saint-Preux e Jared Cannonier. O brasileiro não teve resposta ao wrestling e condicionamento físico de Corey Anderson e Phil Davis, não foi páreo ao poder de nocaute de Anthony Johnson e não conseguiu achar Alexander Gustafsson no octógono devido ao footwork do sueco.
Porém, ao mesmo tempo que Glover teve dificuldade, ele foi um dos únicos dessa geração que continuaram no UFC. Anderson e Davis foram para o Bellator, Johnson se aposentou e Gustafsson subiu para os pesados. Com isso, o brasileiro pôde dar um passo atrás na carreira e mudar o seu papel na divisão. Por um tempo, ele virou o guardião do top 5 e servia como um teste para atletas promissores. Isso foi visto nos combates contra Karl Robertson, Ion Cutelaba e Nikita Krylov.
O que mais impressiona nessa ressurreição de Glover nos meios-pesados é a habilidade de levar um golpe. Todos sabem que ao longo da carreira, o lutador vai perdendo o queixo. Em resumo, a capacidade de absolver golpes não é a mesma. Mas, Glover até mostra sinais de um queixo mais fraco, porém consegue se recuperar rapidamente.
Além de um poder de recuperação inacreditável em suas últimas lutas, Glover mostra uma noção de estratégia muito maior comparado aos anos anteriores de sua carreira. Ele ficou mais inteligente e percebeu que o seu jiu-jitsu é uma arma letal na atual categoria dos meios-pesados. Ele sabe que a melhor estratégia é derrubar o oponente, então no minuto em que a trocação não está em seu favor, ele vira a chave e queda o adversário.
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Glover Teixeira em uma de suas lutas. Foto: UFC/Reprodução
Essa ascensão do Glover é uma daquelas histórias que parecem roteiro de filme. O veterano esquecido por todos e em uma posição de ser um obstáculo para jovens promessas, emplaca uma sequência de vitórias e disputa o cinturão. Algo assim parecia improvável de acontecer em 2018, mas ninguém ficará tão surpreso se o brasileiro for campeão em 2021. Pensando bem, é realmente um filme, só que invés de ser "O Último dos Moicanos", Glover é o último da velha guarda.
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