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A desvalorização dos astros do espetáculo

O UFC retornou à ativa no início de maio com o UFC 249, realizado na Flórida, nos Estados Unidos. O primeiro evento desde a parada graças ao Covid-19 foi cheio de performances incríveis. Talvez a maior dessas performances tenha sido a do campeão peso-galo, Henry Cejudo, que derrotou o ex-campeão Dominick Cruz na co-luta principal. Surpreendentemente, Cejudo declarou a aposentadoria após a vitória.

Henry Cejudo após a vitória sobre Dominick Cruz no UFC 249. Foto: Getty Images


Cejudo não explicou direito o porquê da aposentadoria inesperada, simplesmente falou que já havia conquistado tudo na carreira e decidiu parar no topo. Mesmo com a explicação, muitos vêem a situação com outros olhos. Especialmente depois que "Triple C", apelido de Cejudo, afirmou que uma boa proposta financeira o faria lutar novamente.


Desde que derrotou Demetrious Johnson no UFC 227, em agosto de 2018, e se tornou campeão dos moscas, Cejudo reclamava que merecia receber mais dinheiro. Essa reclamação aumentou bastante após defender o cinturão contra TJ Dillashaw, em janeiro do ano passado, e principalmente, após ganhar o título dos pesos-galos e se tornar campeão de duas categorias contra Marlon Moraes no UFC 238, em junho de 2019.


A observação de Cejudo após o primeiro título contra Johnson deu certo. Ele recebeu 100 mil dólares contra Demetrious, enquanto na luta seguinte contra Dillashaw, ele recebeu 350 mil. Esse valor continuou nos combates contra Moraes e, mais recentemente, contra Cruz. Mesmo assim, "Triple C" afirmava que merecia mais.


A aposentadoria seria uma jogada de marketing na visão de muitos. Uma estratégia para ganhar mais dinheiro do UFC, que parece não estar disposto a pagar o que Cejudo quer. Henry não é o primeiro a achar que deveria receber mais. Isso é uma constância com a maioria dos lutadores da organização, principalmente depois do contrato do UFC com a Reebok.


O dinheiro que os atletas recebiam diminuiu muito, pois a partir de julho de 2015, todos deveriam utilizar equipamento da Reebok na semana da luta. Essa regra acabou com os pagamentos de patrocinadores para os lutadores, que muitas vezes era maior do que o salário do UFC. O dinheiro da Reebok passou a depender da quantidade de lutas do profissional na organização. Menos de cinco lutas, só recebia cinco mil dólares e assim por diante. O máximo a se ganhar era para os campeões, 40 mil.


Além da questão da Reebok, por anos muitos lutadores se sentiram pouco valorizados pelo UFC. São poucos os atletas que ganham milhões. Esse tipo de pagamento a organização reserva para as estrelas como Conor McGregor, Ronda Rousey, Brock Lesnar e outros. De 500 lutadores empregados pela companhia, menos de dez recebem milhões por luta.


O fato não é que todos deveriam receber milhões de dólares para lutar. A situação é que por não poderem receber dinheiro de patrocinadores, o valor dado pelo UFC deveria aumentar. Os mais prejudicados são os lutadores não ranqueados, que geralmente dão início aos cards. Esses atletas costumam receber entre dez e 50 mil para lutar. Esse valor muitas vezes reduz bastante graças a impostos e taxas, além de ser utilizado para pagar todo o camp (período de treinamento para a luta) do lutador.


Outra questão é em relação a pandemia mundial do coronavírus. O UFC não pagou nenhuma quantia durante a paralisação de dois meses, o que deixou os lutadores sem dinheiro para se manter e pagar contas. A pandemia fez muitos atletas ficarem com dívidas e necessitarem lutar para pagar. Um exemplo disso é o russo Aleksei Oleinik, que lutou contra o brasileiro Fabrício Werdum no UFC 249, para pagar uma dívida de 17 mil dólares.


No momento, o motivo real para a aposentadoria de Henry Cejudo não é conhecida. Talvez seja uma jogada de marketing para ser valorizado. A realidade é que ele não foi o primeiro e nem será o último. Muitos outros já reclamaram antes dele, até outros campeões. Um caso mais recente foi o do campeão peso-pesado, Stipe Miocic.

Stipe Miocic comemorando sua vitória contra Daniel Cormier no UFC 241, em agosto de 2019. Foto: UFC/Reprodução


Miocic ganhou o cinturão contra Fabrício Werdum no UFC 198, em maio de 2016. Nessa luta, ele ganhou 210 mil dólares. A reclamação do americano veio depois de se tornar campeão. Ele se sentiu pouco valorizado pelo UFC por receber menos dinheiro do que os desafiadores ao seu título. Isso aconteceu contra Alistair Overeem, em 2016, e contra Júnior Cigano, em 2017.


O pedido de mais valorização de Miocic funcionou, pois a partir da luta contra Francis Ngannou no UFC 220, em janeiro de 2018, ele começou a receber mais que os oponentes. O pagamento que era 210 mil quando ganhou o cinturão em 2016, passou para 750 mil quando perdeu e depois, reconquistou o título contra Daniel Cormier, em 2018 e 2019, respectivamente.


O baixo pagamento é um insulto para os lutadores de um dos esportes mais prejudiciais à saúde. Os atletas colocam seus corpos em jogo para proporcionar um espetáculo para milhões de espectadores ao redor do mundo. O UFC é uma empresa bilionária graças a esses profissionais. Sem eles, a organização não teria o tamanho que tem. O justo é todos recebessem o valor merecido por se arriscarem e entreterem multidões.

 
 
 

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